Fala-se tanto em inclusão hoje em dia; são tantas inquietações, dúvidas e – verdade seja dita – dificuldades apontadas para a sua efetivação. Como observadora atenta e apaixonada do processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças – não apenas as que têm Síndrome de Down mas, sobretudo, destas – defendo que a inclusão já está acontecendo. E mais, que só acontece quando há, por parte dos envolvidos, atenção a três premissas: coragem, conhecimento e compartilhamento.
Não há como negar que, para um professor que nunca teve a experiência de interagir com um aluno com Síndrome de Down ou qualquer outra deficiência, é difícil dar o primeiro passo. Mas ele se preparou para ser um professor; mais que isso, para ser um educador. E um educador lida com pessoas, não com síndromes. A síndrome é só uma característica da pessoa. E o que dizer da mãe, que não se preparou para lidar com a síndrome? Ela se preparou para ser mãe e, ao realizar, com coragem, seu papel de mãe, descobre o filho – a pessoa – por trás da síndrome. Coragem, então, ao professor, para colocar tabus, medos e preconceitos de lado e se permitir fazer o seu papel de educador de pessoas.
Saber sobre a Síndrome de Down, ou sobre qualquer deficiência ou necessidade educacional especial não é saber sobre inclusão. Termo técnico não assegura processo, nem sucesso. Cada dado, cada informação só tem validade se transformado em conhecimento, e conhecimento – todo educador sabe – é construído: na interação, na experimentação, na análise desprovida de preconceitos. E ninguém busca o conhecimento que não julga necessário. É por conta disso que as crianças e jovens com Síndrome de Down precisam estar nas escolas: para criar demanda, para que toda a equipe pedagógica busque, estude, conviva e passe a enxergar além das características físicas, investindo em seus alunos para além do social.
Por fim, mas não menos importante: não há inclusão sem compartilhamento. Os preconceitos, disseminados por anos, só se fizeram tão arraigados porque foram compartilhados. É hora de compartilhar os saberes construídos na convivência com as pessoas com Síndrome de Down, dentro dos espaços escolares e não apenas junto à família ou em espaços segregados. O educador que já se encorajou a despir-se do preconceito e a assumir suas fragilidades; que se aproximou, interagiu, acolheu, observou, estudou, aprendeu e ensinou, sabe: é possível, sim! E é urgente acabar com esta visão desumana e deturpada de que a pessoa com Síndrome de Down não aprende. Se nós, deficientes em aceitar e entender de gente, somos capazes, porque eles não seriam?
Pense nisso quando a inclusão bater à sua porta.
Ana Beatriz Araújo